Brasileiros estão entre os dez maiores compradores da Louis Vuitton

27/10/2012 20:13

SÃO PAULO - O presidente mundial da Louis Vuitton, o francês Yves Carcelle, 64 anos, não se intimida pela lógica do custo Brasil, aquela que diz que, se os brasileiros podem viajar para o exterior com facilidade, por que gastar mais para comprar grifes famosas em território nacional? Tanto é assim que Carcelle esteve pessoalmente em São Paulo, semana passada, para inaugurar sua loja global no shopping Cidade Jardim, um colosso de mil metros quadrados e uma novidade que promete arrebatar os fãs da marca: a sala de personalização Haute Maroquinerie, onde as clientes podem customizar suas bolsas entre várias opções de cores e couros. Só existem 12 lojas no mundo com este serviço.

Ao abrir as portas do que a marca chama de “Global Store Louis Vuitton Cidade Jardim” (são 69 em todo mundo), empreendimento único na América Latina e um dos maiores do planeta, Carcelle deixou claro a razão pela qual o maior grupo de artigos de luxo do mundo está aqui: os brasileiros estão na lista dos dez maiores compradores de produtos Vuitton, misturados com países emergentes e desenvolvidos. São fidelíssimos à marca passam horas a fio no ritual do consumo.

— Olhe para as casas das pessoas. Elas são mais sofisticadas do que há dez anos. O mundo está mais sofisticado, mais rico, e é importante que capturemos esta tendência. Os brasileiros são como todo o resto. Eles estão muito animados com o aumento do poder aquisitivo do país. São cidadãos do mundo — disse ele, em entrevista exclusiva ao ELA.

Yves Carcelle é um mito dentro da Vuitton. Presidente da marca há 23 anos, primeiro como chefe da divisão de malas e à frente do grupo desde 98, ele acompanhou a abertura da primeira loja da marca no Brasil, em 1989, em São Paulo. Toda a expansão da Louis Vuitton passa por seu crivo.

Ao completar 65 anos, ano que vem, o executivo terá que passar o comando da empresa para o sucessor, Jordi Constans, e ficará a cargo da Fundação Louis Vuitton, além de membro do comitê executivo do grupo LVMH, conglomerado cujo faturamento chegou a 20 bilhões de euros nos nove primeiros meses de 2012. Mas sua expertise dificilmente será dispensada.

— O que é fascinante neste negócio é percebermos as macrotendências. O mundo está ficando mais rico e os clientes de marcas de luxo querem mais sofisticação e exclusividade. Nossa cliente no Brasil é uma mulher que já tem 20 bolsas Louis Vuitton, e pretende manter este nível de qualidade. Elas querem também o melhor em termos de serviço. E é por isso que as brasileiras não terão que ir para o exterior para ter a verdadeira experiência Louis Vuitton — diz ele.

O que não significa que tudo é São Paulo. Ainda este ano, o Rio ganhará sua segunda loja da marca no shopping Village Mall, na Barra (a primeira é em Ipanema), enquanto Curitiba receberá a primeira loja no Shopping Patio Batel em 2013. Com isso, a marca terá no Brasil sete pontos de venda próprios: duas lojas no Rio, três em São Paulo, uma em Brasília e outra em Curitiba. Nada comparada às 463 lojas LV em todo o mundo. Mas um crescimento e tanto, levando em consideração que a marca vem mantendo mais ou menos a mesma quantidade de lojas pelo planeta nos últimos anos.

— Não nos interessa abrir loucamente lojas pelo mundo, até porque não trabalhamos com franquias ou licenciamento. Preferimos escolher com cuidado e paciência as melhores localizações. Acabamos de abrir pontos de venda na Jordânia e no Cazaquistão, mas ainda não achamos um bom lugar na Cidade do México, onde venderíamos a marca como batata quente — diz.

A marca não revela por nada suas vendas no Brasil, mas há quem situe a cifra em algo com US$ 20 milhões anuais.

Grife tem estratégia especial para a Copa

A loja global do shopping Cidade Jardim é um sonho. Além da Haute Maroquinerie, um privilégio no mundo das bolsas fabricadas no histórico ateliê de Asnières, perto de Paris, a marca traz o prêt-à-porter feminino criado pelo diretor artístico Marc Jacobs, a chamada Sala de Viagens, com tudo o que um viajante precisa, incluindo a lendária Cama Baú (encomendada pelo explorador franco-italiano Pierre Savorgnan de Brazza, em 1875, para uma expedição ao Congo), e o universo masculino, com à venda, pela primeira vez, da coleção masculina prêt-à-porter. A marca prepara uma estratégia de marketing especial para a Copa do Mundo de 2014. Yves Carcelle está excitado:

— Temos uma estratégia para Copa do Mundo e para as Olimpíadas. Assinamos com a Fifa uma ação para as duas últimas edições da Copa. Quando ela foi na África do Sul, Fábio Cannavaro, capitão do time italiano, vencedor na disputa anterior, entrou com a taça no campo dentro de uma mala Vuitton. É aquela ideia da bagagem desenhada para carregar o que é mais precioso para você. Aqui no Brasil não será diferente, a Copa será trazida para o Brasil numa mala Vuitton pelo capitão da seleção espanhola, a última vitoriosa — diz.

Bolsas customizadas a partir de R$ 115 mil

Na loja global, os preços variam tanto quanto as dezenas de produtos disponíveis. Bolsas de monograma LV, clássicas, são vendidas a partir de R$ 1.500, enquanto carteiras custam a partir de R$ 700. Mas as bolsas customizadas da Haute Maroquinerie, produzidas artesanalmente, custam a partir de R$ 30 mil. Se a cliente quiser um couro especial, como o de crocodilo, o preço inicial sobe para R$ 115 mil.

Dono de uma política de tolerância zero com pirataria de sua marca, Carcelle se diz um otimista:

— Os governos admitem que a pirataria é economia informal, que não contribui com impostos e tem condições de trabalho aviltantes. E cada vez mais países querem estabelecer marcas globais, incluindo os chineses, e sabem que isso só será bem-sucedido com a proteção da propriedade intelectual. Uma das nossas preocupações é com a pirataria na internet — acrescenta o presidente. — Amamos o mundo digital, mas ele deve ter as mesmas regras de conduta que regem o mundo real. E como a maior parte da pirataria vem da China, nossa estratégia é focar nos grandes fabricantes e distribuidores de falsificados, em vez de perdermos tempo com pequenos fabricantes.

Gabinete vira objeto de desejo

Na entrada principal da loja global da Louis Vuitton no shopping Cidade Jardim, uma espécie de casulo de tiras de couro em tons de roxo chama a atenção. Trata-se de Maracatu, o Cabinet de Voyage criado pelos irmãos Fernando e Humberto Campana exclusivamente para a grife, dentro do projeto da Louis Vuitton de parcerias com artistas e designers de ponta em torno do tema viagens, batizado Objets Nomades.

Há três anos, a Vuitton os convidou para criarem um produto com uma cara brasileira capaz de traduzir a ideia de nomadismo típica das viagens associadas às clássicas malas.

— Pensamos numa ideia de fruta e do maracatu, que é símbolo de sincretismo pagão e mistura do Brasil, uma festa colorida importada da África, mas já incorporada à cultura local — diz Fernando Campana.

— Queríamos uma bagagem com um espírito de movimento, cores e alegria, mas também de reciclagem, que é uma característica muito nossa, então decidimos aproveitar fragmentos do couro usado nas bolas Haute Maroquinerie pelos artesãos da marca em Asnière — afirma Humberto Campana.

Apenas 12 malas foram produzidas pela dupla brasileira de designers, e cada uma ganhou um nome de fruta de acordo com a composição de cores. A da Global Store paulista é açaí (em tons de roxo), com o preço negociado diretamente com o cliente, mas não erra quem arrisca um valor de cerca de 30 mil euros para começar a conversa.

O gabinete será apresentado no Design Miami, em dezembro. A ideia é que cada um decorar uma loja Louis Vuitton ao redor do planeta. No lançamento da loja global, houve quem cobiçasse o gabinete, em formato de cacau, como objeto de decoração mesmo.

— Mas isso ficaria lindo na minha sala! — comentou uma das visitantes.